22 coisas que são minhas gostosuras em 2022, esse exigente ano.
Não ia escrever mais esse ano, mas, daí, resolvi fazer uma lista exageradamente e desnecessariamente grande.
O famigerado listão.
Ó, daqui saem as coisas que me apeteceram, marcaram, amaciaram, deliciaram meus momentos nesse ano. Acho que desde 2020 não é tão evidentemente importante assim ter e se agarrar em alívios, por isso, apesar de eu sempre ficar "uhmmm, será mermo que querem saber o que eu quero que saibam?" numa dúvida de autossabotagem singela. Nesse ano, dizer sobre os meus gostares é simplesmente um manifesto, quase uma bravata. Um saravá.
E sou ótimo em indicar coisas, pois, tenho absoluta certeza que tenho um puta gosto bom, em todos os aspectos. Na humildade, claro.
1) LARINHX.
Essa me pegou muito nesse ano apesar de já estar ligado em quem ela é desde um tempo atrás, no auge da minha ligação com rap/trap, meados de 2019/20, mas, desde que eu me peguei viciado no álbum de 2021, vulgo "Eu gosto de garotas" e, pra lapidar ainda mais essa experiência, pude ver ela tocando na minha frente, bem pertinho, foi muito vibes, gostoso. Tem até um momento que eu tava lá sentado, bêbado com um amigo meu no local que ela ia tocar, ela tava do meu lado e eu nem sabia que era ela, ela até trocou ideia comigo ou me pediu um isqueiro... Algo assim, pra, daí, só depois eu me ligar que era a LARINHX. Enfim, ouçam, pois, é daquelas artistas que eu acompanho de perto os lançamentos e, definitivamente, não tem muitos artistas que me pegam dessa forma.
2) "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo", dirigido por The Daniels.
Fazia tempo, muito tempo, que eu não gostava tanto de um filme. Fazem alguns meses que assisti esse filme e até hoje penso nele de forma genuinamente impressionada. Não a toa o título da minha newsletter é o antônimo do título do filme. É impressionante toda a história desse filme como também a história da história desse filme. Dez anos pra se fazer, multiverso, kung-fu, non-sense, intimismo, criatividade gigantesca. Uma obra ética-estética-política em seu maximalismo acolhedoramente brutal. Bagulho é foda demais.
3) Academia.
Esses dias eu tava bebendo com duas amigas minhas e uma hora perguntei como tava rolando a academia e tal e ela me respondeu "Ah, é um negócio que faz parte da minha vida já", com uma carinha mó satisfeita. Isso é um bagulho que eu acho gostoso, saca? A visão sobre academia uns anos atrás era super brega, uma galera meio obcecada, aquela vibe Léo Stronda da parada, acho brega pra caralho. Essa coisa do no pain, no gain do caralho. Agora não, agora eu vejo uma parada muito mais alargada, expansiva. Tem uma galera falando sobre academia que realmente incentiva de um jeito interessantíssimo. Esse ano, definitivamente, foi uma das paradas que mais me apeteceram. Se pá, foi o ano que mais peguei firme na academia, por dois motivos: Pra ficar MAIS gostoso e, também, porquê se sentir endorfinado é um dos melhores sentimentos do mundo. Nem tô falando de um jeito romantizado da academia em si não, se pudesse, eu injetaria endorfina em mim. A parada é gostosa demais. Tem outra frase simples que é realmente verdade que é: "É SEMPRE melhor ir do que não ir" e é verdade. Os dias sempre melhoram depois de malhar. Além de servir como momento pra eu botar álbuns em dia, ouvir podcast ou até organizar meus pensamentos enquanto puxo um ferro gemendo.
4) F1 pós academia.
Leve um baseado pra academia, uma garrafinha d'água, termine o treino, dá aquele golão n’água, se possível vá a pé pra casa e, aí, bota fogo na babilônia e só apaga quando chegar em casa. É gostoso DEMAIS, tá? Confia.
5) Instagrams KLR Productions e Dusty Douglas.
Esse aqui é meu amor. KLR criado por Kolby Fenton e o Dusty Douglas, bom... Pelo Douglas, São as coisas que mais vi e revi nesse ano e provavelmente verei novamente em algum momento. É simples a parada: são dois manos dublando com muito esmero vídeos aleatórios de animais, é literalmente só isso e é uma das melhores coisas que eu descobri nos últimos tempos. Eu racho o bigode, rio que nem bobo.
6) Fotografia analógica.
Tiro fotos desde 2000 e pouco, algo assim, e minha câmera digital já era ultrapassada na época que comprei. Tem toda uma história essa câmera que gosto muito, um dia eu conto. De qualquer forma, uma hora a obsolescência programa cobra e ela foi de comes e bebes e, eu, definitivamente, não tinha e não tenho grana pra comprar uma câmera digital boa, entretanto, não queria e não quero ficar sem minha fotografia, então, esse ano resolvi comprar uma câmera analógica que é bem mais barata - apesar da gastação com filme - e, vamos confessar aqui que é de um charme muito único. Ainda tô pegando o jeito, mas, é muito interessante como a relação com a própria fotografia é outra, depois de tanto tempo tirando foto em câmera digital e celular, pegar um aparelho absurdamente analógico com alavancas, manivelas, peso, botões que fazem "cleck" ao invés de "bip" é muito interessante. Porra, a sensação de terminar um filme, ficar ansioso pra revelá-los e não ter ideia de como as fotos virão exatamente é muito gostosa. As vezes irritante. Mas gostosa. Eu peguei na minha, que é uma Olympus Trip 35, uns 350 conto com o frete. Comparado a uma digital num é nem uma parcela dividida em 10x. Sobre os filmes, ainda mais por estar aprendendo, eu costumo comprar filmes vencidos que são mais baratos e dão resultados interessantíssimos. As vezes a foto sai uma merda, mas, na maioria das vezes não.
7) A pastelaria aqui na esquina de casa.
Porra, o que eu comi de pastel, tropeiro e vitamina de açaí EXCEPCIONAIS é brincadeira. Meu café da manhã, meu almoço e só num é a janta porquê fecha, se não, seria demais. Valorizem as coisas de bairro no seu bairro, tem achados e histórias tão interessantes de se ver e ouvir.
8) Phebo Gerânio Bourbon.
Eu sou uma cadelinha abanando o rabo pra qualquer coisa da Granado, da Phebo. Se eu pudesse, minha casa teria aroma cada dia de uma fragrância diferente dos produtos da Phebo. Eu que sou um absoluto devoto sabonete e colônia de limão siciliano, esse ano descobri, me apaixonei e agora sou absurdamente amante do aroma "Gerânio Bourbon". Eu até suspiro só de lembrar desse cheiro. Portanto, talvez, seja essa a minha personalidade escolhida pra 2023: A personalidade Gerânio Bourbon. PS: Meu sentimento sobre os sabonetes Phebo é incrivelmente traduzido neste texto que, na minha opinião, é um dos melhores textos que já li na internet.
9) God of War Ragnarok.
Acho que videogame foi a mídia que mais consumi esse ano, se pá esse e o ano passado também. Foi na pandemia, quando tive que deixar Belo Horizonte e voltar pra casa dos meus pais por quase dois anos. Morando na casa dos meus pais, sem poder fazer nada na rua, e pagando muito menos do que o aluguel que eu pagava, me sobrava um dinheiro que, pra época, pra quem tinha acabado de se formar, era muito dinheiro, portanto, com essa oportunidade meio bizarra, finalmente comprei um videogame, dos mais novos e tal. Isso sempre foi um sonho em todas as minhas fases de idade. Lembro que eu respondia a seguinte parada quando me perguntavam o que faria se fosse rico: "Mano, eu pararia de trabalhar, viajaria e teria sempre o videogame da minha última geração" e, com alguns adendos hoje em dia, ainda é a minha resposta. Então, desde disso, tem alguns novos jogos que tem me pego bastante. Incrível como a maturidade de contação de histórias dos games é notória e faz parte da cultura como um todo, apesar da imagem do gamer incel, que é também verdade. Enfim. Puta divagação do caralho. Esse jogo me pegou de forma muito foda porquê, a meu ver, é uma construção de personagem tão fantástica, do que o personagem Kratos foi, lá em 2005, de uma exacerbação da masculinidade normativa à um exímio conceito de redenção, perdão e paternidade em 2018 e 2022. Um ícone de personagem da história dos games realmente amadurecendo devido ao espírito dos tempos. Claro, tudo isso é um reflexo de quem criou o game, Cory Barlock, mas, isso é muito foda. O jogo me botou em muitos questionamentos, principalmente os sobre paternidade e adolescência. Pra mim que já fui quase um antinatalista, é muito interessante ver um jogo de vídeogame potencializando uma vontade de ser pai nalgum futuro. Além de ser um jogo incrivelmente fudido de gostoso de lindo de se jogar.
10) "A mão esquerda da escuridão", escrito por Ursula K. Le Guin.
Ó, eu nem terminei de ler ainda, li até pouco antes da metade, mas, eu digo que é uma das minhas leituras preferidas desse ano. Digo preferida porquê eu realmente não li muita coisa, eu estou pego pelo espírito da pós-modernidade, do tiktokismo, de coisas rápidas, 2 minutos, 15 segundos. Apesar de estar voltando, enfim, a uma velocidade mais lenta, sei que fui pego por isso e não adianta muito posar de gostosão da bala chita em que consigo subverter, esquivar dos tentáculos do espírito dos tempos. Entretanto esse livro foi um marco desse desacelerar e de como livros me pegam de um jeito tão específico e do porquê eu os amo. Estava eu naquela espera burocrática de posto médico e levei esse livro como quem quer pagar mais de charmoso do que de leitor. Comecei a ler. Acho que tinha lido só a introdução e sabia que ia me interessar, portanto, agora entrava de fato na história que o livro queria me contar e, daí, foi um arremate. Aquela leitura de não querer parar, tanto, que fiquei feliz que a espera no posto acabou demorando mais que o normal e eu estava com tempo. Fazia tempo que eu não sentia exatamente essa sensação, foi revigorante. Desde então, tenho lido mais. O livro é incrível pela ficção científica antropológica e sociológica que tange toda a questão de gênero, sexo e patriarcado. É, o bagulho é doidera. Gostoso demais.
11) Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito, democraticamente eleito, do Brasil.
Simplesmente, porra.
12) "Tendência", música de Dona Ivone de Lara.
Tive uma ligação mais afirmada esse ano com três gêneros musicais: Samba, pagode e funk. Dona Ivone de Lara, que eu conhecia de nome e história do samba, se torna expoente do meu abraço gostoso com o samba esse ano. "Não me comove o pranto de quem é ruim". Essa frase é uma tradução tão incrível sobre esse processo político que o Brasil vive, sobre esse momento de transição de um medo estarrecedor pra uma esperança renascente. Isso é mágico. Arte. Brasil. Samba. Negritude. Tenho de mencionar a música "Mas quem disse que eu te esqueço", cantada junto com Zeca Pagodinho, que também viveu comigo demais nesses últimos tempos. Eu preciso de um rolê com havaiana no pé, camisa de botão aberta, sol queimando o céu, cerveja a revestrés, gente e esse samba sambando na caixa de sol lindamente.
13) Ter conseguido passar um tempo junto com minha amiga Camila que é minha webamiga a mais de quinze anos.
Aqui tem até uma história engraçada. A Camila é uma amiga minha, amiga mermo, vibe de irmandade, que eu conheci no gigantesco Orkut por gostarmos de anime e Japão basicamente e, desde então, a gente nunca se largou. Não de conversar sempre, esse tipo de coisa, mas, viver de épocas. Tem época que a gente se fala sempre e tem outras que a gente não troca ideia nenhuma. Isso tudo organicamente. E toda vez que conversamos é a mesma coisa boa, mesma vibe, de xingamentos carinhosos e falar de traumas íntimos lá da casa do caralho e, tipo, porra... São quinze anos pra mais. Quinze anos atrás eu tinha treze anos. Bizarro como essa relação de genuína amizade se manteve. Nesse tempo todo, nós nos encontramos três vezes. Uma quando fui a São Paulo esse ano, nos encontramos, bebemos uma cerveja, conheci o namorado dela, foi massa, mas, foi rápido e eu estava numa vibe social bem esquisita nessa época, então, foi bom, mas não foi ótimo. Nesta vez agora neste último trimestre, em que ela veio pra ficar aqui em casa e passar realmente uns dias aqui e foi realmente tudo que era pela internet, e a primeira vez, que foi a mais icônica, em que, combinamos de nos encontrar num evento de anime, isso bem novinhos, quinze anos, por aí. Fui pra São Paulo, fui no evento e, lá pro meio do evento, ela chega por trás, me cutuca e diz "Oi, Matheus!" e eu tive simplesmente um surto, ansiedade e timidez em que abracei ela bem forte e depois saí correndo dela. Literalmente correndo, não é figura de linguagem, eu realmente saí correndo no meio do evento, me perdi dela e depois que passou, eu não achei ela mais. Então a gente riu muito disso nesse nosso encontro último.
14) O clipe de "Tidal Wave", de Tom Misch ft. Yuseff Dayes.
Eu amo Tom Misch e amo esse gênero - não a toa tenho uma playlist lapidada com as músicas que mais gostei nessa mesma vibe desde 2018, meu diamante - que eu não definir, mas, é esse gênero vibes, que flerta com um lo-fi hip hop, um r&b, um alternativo, algo assim, que serve tanto pra você lavar louça quanto transar quanto fumar um quanto, sei lá, fazer qualquer coisa calma. Uma brisa macia. Enfim, a música é uma delícia, é hipnotizante - destaco a base da música, aquele toquinho repetitivo de uma baqueta é literalmente hipnotizante - mas, o clipe, é algo que me pegou muito. É uma animação, simplória pra caralho, aquela coisa praiana, mar, ondas... Não sei, acho que tudo desse trampo do Misch é hipnotizante.
15) Futebol.
Sim, futebol. Houveram seis coisas que eu já quis ser na vida: Astronauta, lixeiro, psicólogo, jornalista, engenheiro de computação e jogador de futebol. Em algum momento da minha vida lembrei que tinha esquecido do quão eu gostava de futebol. Quando pequeno joguei muita bola na rua, no quintal de casa, na quadra do clube e até um pouco no campinho de areia. Eu era fanático pelo Santos, meu time de coração transferido pelo meu pai. De ver jogo com a toalha e camisa do time gritando e tal. Isso, em algum momento, sumiu. Acho que quando assumo minha persona de moleque nerdão. Apesar de eu ter jogado nessa época, eu nunca fui lá o melhor dos jogadores, além de, por muito tempo, lidar mal com os símbolos de masculinidade e competição. Portanto, nalgum momento eu simplesmente passei a odiar futebol, porquê era um símbolo daquilo que eu não queria ser e, diante as experiências, principalmente de escola, não era um lugar que me queria também, mas, desde o ano passado pra cá, eu voltei a esse lugar e é uma das coisas mais que eu mais gosto desse ano, voltar a acompanhar futebol e querer acompanhar outros esportes e tal. Porra, com a Copa foi um deleite do caralho. Até tenho exagerado um pouco em quanto tenho me inteirado nisso. Mas há um encanto em todos os esportes que fascinante, porém, principalmente no futebol. A coisa de inverter o comum das mãos para quase o antônimo do pé, da coletividade, da torcida, da megalomania, do corpo-manifesto, daquela proximidade com a dança, com a emoção que expele, com a mediação de quem narra que é formidável, enfim. O futebol é um alvará de liberdade muito único, principalmente no Brasil e isso é lindo.
16) Tiradentes - MG.
Minas é foda, isso todo mundo sabe. Eu amo demais esse Estado e, especificamente, Belo Horizonte tem um pedaço grande do meu coração. Uma hora eu vou escrever sobre isso ainda. Por aqui, tem três cidades que são destinos certos: Mariana, Ouro Preto e Tiradentes. É quase como se fosse um circuito por essas cidades absurdamente charmosas, de ruas de paralelepípedo, subidas bizarras, comida boa e muita história. Esse ano fui a Tiradentes, passei alguns dias lá e foi simplesmente uma das melhores experiências esse ano. Fui com um dos meus amores que é a Ana, a gente já falava de viajar nalgum momento desde quando a gente pegou mais intimidade, um desejo que nunca morreu e, dessa vez, apesar das várias intempéries, rolou e, porra, foi gostoso demais. A cidade é literalmente tudo aquilo que falei. Jamais vou esquecer da sensação de estar andando a noite, bêbado de vinho, por aquelas construções, bares, comércios, gente, sem medo de nada, despreocupado, rindo, desbravando a cidade. Foi incrível, quem puder vá. É uma puta de uma cidade fantástica e romântica.
17) Ter encontrado mais a Gabi do que eu imaginava.
A Gabi é mais um de meus amores e eu um dia eu escrevo um texto de como a gente se conheceu. Coisa de filme, tá? Enfim, desde quando vim pra BH, eu morei com pessoas, primeiro eu e Gabriel, depois eu, Gabriel e Ted, depois eu, Gabriel e Gabi, moramos nós três por um ano mais ou menos, mas, houveram tantos sonhos e partilhas de história vividas entre nós três que é um período muito marcante. Já no começo desse ano a casa começou a ir sumindo, por processos da vida, a Gabi mudou de cidade, Gabriel foi morar com a namorada e eu, enfim, consegui vir morar sozinho - tópico próximo nesse texto - e a ida da Gabi embora foi muito ruim, as intempéries da vida pós modernista no capitalismo tardio, uma sensação de falta muito grande pela relação tão gostosa que a gente tem de amizade, porém, com o tempo passando e com as coisas se encaixando, praticamente todo mês, ela veio a BH, essa cidade que quase convoca a gente, e sempre fica aqui em casa agora, então, é uma soma de saudade e vontade de estar juntos muito gostosa. A casa é tanto minha quanto dela. Gabi representa muito sobre minha relação com Belo Horizonte, assim, como o Gabriel, um de meus amores também. Se não me engano, Gabi foi a última relação que fiz que adquiriu terras no terreno de meu coração e, depois de adulto, percebe-se o quanto a amizade é um dos sentimentos mais absurdamente lindos que há na existência.
18) Morar sozinho.
Porra, mermão, isso é o sonho de todo pobre. Claro, eu não comprei minha casa própria, mas, eu pago meu aluguel, conta em dia e os caralho. Isso é surreal mesmo. Até uns três, quatro anos atrás eu nem pensava nisso porquê não parecia nem real, nem possível assim. Como assim ter dinheiro pra morar num lugar sozinho? Para de graça. Pois é. Rolou. Pode ver que esse descrito é todo em tom e deslumbre. Depois desse tempo, é gostoso sentir que coisas realmente se realizam.
19) Lançar um livro. (Bruxismo: Outros diários da peste)
Essa é outra parada que até agora não entendi direito. Sim, eu lancei um livro, exatamente igual esses que você, eu, temos em casa. De papel, capa, ilustração. Saiu em quatro países. Eu simplesmente até agora não digeri direito eu acho. Eu sou escritor antes mesmo de conhecer o desejo de ser escritor. Parece que foi assim, seco, num dia eu era algo, noutro dia eu era escritor. Como já disse n’algum outro texto, sinto que nasci quando escrevi, não lembro da minha vida antes de escrever ou lembro muito pouco. Fazem quase duas décadas que eu escrevo, minha vida foi muito guiada por escritores, a escrita salvou, literalmente, minha vida. Sem metáforas, só a crueza. Eu provavelmente estaria morto se não tivesse descoberto que posso despejar sentimentos através de palavras, portanto, ter um livro lançado é simplesmente o maior ato da minha vida, eu acho.
20) Me reconciliar com minha cidade natal, São Joaquim da Barra.
Ah, a famigerada São Joaquim da Barra, cidade do interior de São Paulo, quase na divisa com o estado de Minas Gerais, do lado de Ribeirão Preto, odiosamente apelidada por meus amigos e eu de São Joaquim da Bosta. Pois é, com a minha cidade natal eu tive - até tenho ainda - problemas. A cultura provinciana, bem interiorzão mesmo, a maioria das pessoas também, o fato de não ter quase nada pra se fazer quando se quer viver, enfim, inúmeras coisas eu poderia citar, mas, depois de ter re-vivido lá pós faculdade, pós vir pra BH, passar um ano lá no período intenso da pandemia, me gerou inúmeras crises existenciais, mas, foi bom resolvê-las. Lá é o nascedouro de amizades minhas inegociáveis, lar dos meus pais e, me reconciliando com a cidade, concomitantemente, acabei me reconciliando com várias questões com meus pais. Há uns lugares seguros lá que só lá vai ter. Eu sinto saudade de lá, não é mais um sentimento de ojeriza que por muitos anos foi vigente. Gosto do sentimento de saudade com prazo: Quando vou, a saudade morre em no máximo uma semana e saber que eu tenho minha casa pra voltar, é delicioso.
21) BLEACH: Sennen Kessen-hen.
Porra, esse ano simplesmente o anime de BLEACH voltou depois de terminar em 2012. Pensa, o bagulho começou em 2004, eu tinha dez anos, devo ter começado a acompanhar ali pra 2005, 2006 e foi um dos animes que mais me marcaram. Houveram três animes que tem parte na estruturação da minha existência que são: Naruto, Bleach e One Piece, tais que acompanhei e até hoje acompanho - ainda que capengando - minha infância e adolescência praticamente inteira, portanto, BLEACH voltar dessa forma tão maravilhosa, com uma animação maravilhosa, com tudo aquilo que me impressionava na minha era otaku, trouxe tudo isso de volta. Toda segunda eu e um amigo logo que dá a noite, um de nós, sem combinar, simplesmente manda no whatsapp "BLEACH" e sempre que chega essa mensagem pra mim eu dou um puta dum sorriso.
22) Recuperar a vontade de viver.
Aquela coisa bem dramática pra terminar essa lista deveras exagerada em tamanho. Acho que desde o período de quarentena até, mais ou menos, metade desse ano, sinto que só tive vontade de viver, mas, sem muito conseguir ser ativo sobre essa vontade. A pandemia fudeu minha saúde social de uma forma que não tenho noção até hoje. Esse ano, apesar de muitas coisas boas terem acontecido, sinto que boa parte não vivi porquê estava ansioso, paranoico, coisas do tipo, além de toda a desgraça que foi esse ano no sentido macro com a tensão pré-eleições, nas eleições e, apesar do alívio, pós eleições. Foi um ano que me exigiu. Todavia, acho que venci. Venci no aspecto que fiz muitas coisas esse ano, apesar de em muitos momentos estar travado. Sinto que a partir do meio do ano, as coisas voltaram a um azeitamento, a deslizar de alguma forma, apesar dos pesares. Lembro que quando "saí da pandemia", eu estava borbulhando, transbordando de vontades, mas, não contava que eu estava com tanto, tanto medo também. Medo do mundo mesmo. Medo de tudo. Simplesmente sentia que tinha perdido o aprendizado de como viver. Hoje, tenho ainda vários novos medos. A vida adulta é foda pra caralho. Mas, tenho uma esperança que é alimentada com lenhas pra engrandecer o fogo. Apesar dos medos, dos pesares, das intempéries, das burocracias, dos tropeços, das quedas, dos afastamentos, da dor, quem tá na frente é o desejo e o sonho. Isso é mágico.
É isso. E se tu chegou até o final dessa porra, pô, máximo respeito.
Feliz ano novo e fé pra tudo, até ano que vem.
Gostei demais da lista. Não gosto de fazer, mas gosto de ler 😂
Descobri o Gerânio Bourbon na última black friday na forma de perfume e estou viciada. haha Que ano e que lista! Feliz ano novo, Matheus. Que renda um listão ainda maior.