Como soam as solidões do pianista pernambucano Vitor Araújo.
[Texto originalmente escrito em 2015]
[Texto originalmente escrito em 2015]
Vitor Araújo, pernambucano multiartista, orquestrador, compositor, pianista, e também compositor de um dos temas do filme que digo, sem pestanejar, que é meu preferido: “Valsa Pra Lua” em “Elena”, de Petra Costa.
Em seu álbum “A/B” expressa em sua música, o clássico contemporâneo, tocando o silêncio das solidões. Tal texto não trata-se sobre a vida do pianista pernambucano Vitor Araújo, tal qual é o compositor de tais melodias maravilhosas que aqui aparecerão, ou então uma análise musical sobre o piano, ritmo e afins, mas sim o que o nome dado a tais músicas fazem sentir em relação a própria, pois, desde a descoberta de tais músicas, cada hora que ouve-se o piano forte ou singelo ou qualquer outro instrumento, faz com que entranhas do corpo se mostrem de outro jeito, com outros sentimentos mas sempre o cheiro visível exala frente aos olhos da palavra: Solidão.
SOLIDÃO n. 1
Soa como a malfeita feita solidão clássica, cinematográfica de filmes em que o mar e a praia demonstram um isolamento necessário e desolador, em que se vê sozinho não entre todos, não com prédios em volta, com nada em volta a não ser tudo aquilo que existia antes dos seres humanos conscientes e maus colocassem as mãos. A areia, a praia, o horizonte, as nuvens e o céu. Sozinho consigo e o mundo, onde a subjetividade imposta ao coração e a dor ao peito de estar sozinho — muitas vezes erroneamente — transpassa a subjetividade e encara a realidade a ponto de ser considerado, de maneira literal, o arrancar do próprio coração, da própria dor, arrancar a alma para que não sinta-se mais daquele peso. O coração de Elena pesava 300 gramas para eles, pra ela, pesava entre um e três mundos. A solidão de Elena se aplica a todas as solidões.
SOLIDÃO n. 2
Um soco na boca do estômago. Um soco na cara. Soa como golpes no piano, em suas notas mais graves e altas, em que desde o início, as batidas nas teclas pesam os ombros e te inclinam. Solidão gigantesca e grotesca, solidão mortífera, mortal, toda escura e de cena de terror. Pesa, pesa muito. Escura, longa e pesada, tal qual não tem-se lá uma explicação, transpassa a linguagem, só quem sente e sente mesmo (não) sabe como denominar, sem cenários, sem vida, com clarões seguidos de trovões que ensurdecem a cabeça. Os olhos fechados ou não, não fazem tanta diferença. Grita sem saber quem ou que grita. O ritmo que não há em várias partes da música é incômodo e parece dizer sobre perdição, sobre realmente estar no escuro sem saber se há esquerda, direita, frente ou trás e quando se ritma, soa como um fio de esperança, talvez útil, talvez inútil, algo como uma simples fé, um suspiro em meio ao afogamento, mas não sei, não se sabe. Esperança parece ser a peste.
SOLIDÃO n. 3
O piano é simples e quem toma conta são os instrumentos de corda — imagino que o violino e violoncelo — em que trata-se da menor melodia, em que soa como algo em que há lágrimas e sorrisos, lágrimas que escorrem sobre um sorriso. É triste mas sorridente, lembra-me Amelie Poulain e todos os seus verdes, vermelhos e cabelo chanel. É gostosa de ouvir, sabe-se onde está quando os instrumentos badalam nos ouvidos em uma altura grande, levita os pés numa pequena quantidade e arrepia. Todas arrepiam, mas essa dá sorriso e não muita dor, choro que parece ser alivio e não desespero. Eu chamaria de solitude, não de solidão.
SOLIDÃO n. 4
Final. Veem os olhos como se créditos subissem em um fundo preto, com letras brancas ou olhos se fechassem, soa como o fim de um filme francês sem muito um final denominado, descrito, simplesmente um acabamento pois tem de se acabar mas ao mesmo tempo, a melodia parece ter um início, um meio e um fim, de alguma forma, dividindo-se em três atos, poderia, de novo, fazer uma analogia com o cinema mas me soa mais como uma analogia da vida. Talvez o início da vida seja um final e por isso mesmo soando como final, soa como vida. A leveza do início, depois a conturbação e então as vozes de fundo que fazem ouvir como algo paradisíaco ou alguma trilha sonora fúnebre, tais vozes femininas em um tom terminam recebendo aquele que ouve com afago aos ouvidos mesmo que doloroso. Solidão da vida por si só? Talvez.