Lembro de quando eu descobri que escrever era mágico. Lógico que o tempo não parou, mas, ele mudou.
Aquele tanto de tempo que eu arrastava a ponta da caneta no papel de um caderno médio, ali eu perdi, me perdi, ganhei, me ganhei, algo assim. Pra quem tinha pouco pé verde pra viajar, não tinha tanto pneu pra gastar, acabei achando um tesouro nesse lugar, nesse espaço, nessa coisa.
Me dei bem de frente com o que eu buscava nos livros de fantasia: a mágica.
Mágica em seu mais puro dito científico, mais puro etéreo terreno e vigente reino democrático.
A história que eu escrevia aquele dia era sobre uma estrela. Devia ter uns doze anos. Sentado na sala, naquele tapete que grudava no chão e na gente, a tarde, tarefa de uma odiosa professora de português, dona Adriana, que se foda a dona Adriana. Da tarefa dada por dona Adriana, eu comecei a escrever algo qualquer, um fluxo de consciência novinho em folha, refrescado, eu tinha muito a mania de quando eu não tinha ideia do que fazer, só fazia qualquer coisa sem sentido até que algo ou alguém dissesse que estava errado. Fui intimidado pelas relações e, portanto, era tímido, falar com a língua no meio de gente era tortuoso. Intimidado e constrangido, não tinha muito o que fazer na época, talvez por isso vazaram as letras.
Mas, enfim, a história: ...na verdade eu não tenho muita ideia da história, eu só me lembro que começava simples e depois virava... Vivo, simples assim.
Eu, minha mão, a história, a folha, o momento, o deslize... era tudo muito vivo.
|O deslumbre com o texto e o deslumbre com o tempo.
Desde então, eu não sei não escrever, acho que nasci quando escrevi, meu tempo começa lá.
Agora, principalmente, aos vinte e oito anos em que eu, literalmente, lanço um livro (gosto sempre de salientar que são em 4 países diferentes (tenho que me gabar)), parece que tudo e nada faz sentido. É literalmente a realização de um sonho. literalmente materializar o que eu senti, imaginei, vivi, comi, gozei, morri. Tá ali, num livro escrito por essas mãos que também escrevem este texto.
Quando eu realizo esse sonho o desejo morre ou nascem mais desejos?
Eu apostaria nos dois, mas, isso são outros quinhentos.
Aos treze, escrevia por amor ou por faltar amor; aos quinze anos eu escrevia por raiva; aos dezesseis, dezessete, escrevia por fantasia; aos dezenove por tristeza; aos vinte e um pela boemia; aos vinte e três pelo movimento; aos vinte e cinco por desespero.
Tô descobrindo pelo que escrevo agora, torço pro que o tempo me conte.
Acho que conta, sempre contou. É um Deus que não aguenta a provocação, tem de agir.
No cavucar de minha penseira, vejo minha imagem dizendo a um amigo a seguinte - e imperativa - afirmação: se você me deixar sentado olhando pra uma parede branca eu escrevo uma história ou um conto ou uma poesia ou o que você quiser.
Foi deveras prepotente, impulsivo, obviamente afirmativo, um pouco cínico e talvez sexy, porém, ainda confio nessa afirmativa.
Numa parede branca há um mundo.
Provavelmente chato, mas, a arte está em como são os movimentos dos dedos.
O estalo dos dedos é o gemido.
Por isso mesmo que eu escrevo sobre escrever hoje.
Esses dias eu estava passeando pela internet como quem caminha em meio a um incêndio e a Vans do Segredos a Órbita apareceu assim, repentinamente, paulatinamente, me chamando pra ir juntar com uma galera pra falar sobre escrever, sobre tempo, sobre newsletters, sobre escrita na internet.
Eu franzi o cenho, não entendi muito bem o que é que eu podia falar, mas, eu podia falar, então, acenei a cabeça pra cima e pra baixo e disse: Pô, mó honra, bora.
Um evento para reunir pessoas autoras e leitoras de newsletter que estejam dispostas a discutir nossa relação com a produção e consumo de conteúdo em texto. Vamos conversar sobre o que está acontecendo e quais as diferenças desse formato de publicação em relação aos outros outros.
Quando: 5 e 6 de novembro
Onde: pelo Zoom
Quanto: 48 reais
(com vagas sociais; veja as informações no site)
Conto com vocês por lá!
Estarei eu na mesa redonda do domingo, ou seja, dia 6, às 10h da manhã, fazendo parte da mesa “Como tornar ideias simples em textos geniais?” junto com Gabi Albuquerque, Lalai Persson e mediação de Paula Maria.
Quem puder e quem quiser, se aprochegue, vou estar lá sem saber muito o que estarei fazendo, mas, ainda sim, fazendo.
Fé pra tudo
Texto lindo, Matheus. Muito feliz que estaremos na mesma mesa.
Que texto lindo!