Será assim, toda quarta eu postarei uma de minhas poesias, conteúdo que tenho e produzo a mais de uma década, então, é coisa pra caralho e quero movimentá-las, botar cada vez pro mundo, portanto, aproveitem a lambida que os olhos seus darão na minha alma. Tem gosto bom.
Enquanto cortava as unhas dos pés
pensava em quanta violência havia no auto-ato de cortar as unhas dos pés.
Aparar nossas garras em prol do conforto da sociedade de milhares de pares de olhos.
Isso convoca imediatamente uma análise sociológica,
mas,
não estou social,
hoje,
agora,
sou só poeta.
Lembro enquanto escrevo e penso em unhas,
nas unhas que comi.
Quantos cortes em meu estômago foram feitos pelas unhas que comi?
O quão intoxicado fui, sou e serei pelas sujeiras por debaixo do tapete das unhas que comi?
Esse negócio de autofagia tem seus modos.
Gosto de lixar meus restos de garras,
sempre me traz o gosto intraextrovertido da vulnerabilidade.
Gosto de vulnerabilidade
(apesar dos pesares)
Me lembro que sou leão
não pela juba,
sim, pelas garras lixadas.
Hoje em dia não me alimento mais de unhas,
ainda as corto com os dentes
mas não a digiro.
Talvez seja um ato que fale sobre não passar vontade
ou
alguma aproximação com o meu eu antigo que se devorava veementemente
ou
nada.
Só ato;
só algo.
Toda vez que corto as longas unhas minhas,
no estalo do corte,
penso em recomeço,
parte de mim começa a, literalmente, renascer,
a recrescer.
Não é bonito o quanto de poesia contém em unhas cortadas?
A destruição que possibilita a renovação
e o renascimento que, enquanto cresce, vê lá no fundo do tempo o gemido apocalíptico do corte.
"Solve et coagula".
Talvez, seja essa, uma das cinco milhões de explicações para se errar a explicação da vida.