tô cansado...
porra, pelo amor de deus, sabe? que ano, que tempos, que vida. viver no absoluto da castração constante que há no pós-modernismo que pranta em choro gritado o capitalismo tardio e, somos nós, parte da balela, da plateia e parte do espetáculo. é, o espetáculo em si, palco e o caralho. não-atores, é a gente. porra, cansa. cansa muito. há um cansaço que paira e adentra a narina de todo mundo que, esse mesmo todomundo, comunica-se pelo olhar. percebe bem, olha nos olhos das ruas e percebe bem se não há uma dose bem concentrada de desespero. pode ver, tô te falando. pode cobrar qualquer coisa. tô errado? errado eu num tô. de uma normalopatia desenfreada quando tá bem claro que absolutamente nenhum dos conceitos sobre o que nos rege como humanos e humanidade cabe por inteiro. o bagulho é espremer até encaixar. tô sem ar aqui, porra. tu num tá não? mó sala pequena que a gente paga uma puta uma grana pra viver enforcado. e eu nem vou começar a falar sobre grana... nem me fala de dinheiro, tá ligado? essa porra é o caralho de asa mesmo, puta que pariu. esses dias eu tava sentado no sofá aqui de casa - que tá quebrado e tenho um ódio deveras profundo por ele parecer mais confortável do que realmente é - e todas as possibilidades que eu pensava que queria realizar, eu jamais poderia fazer todas num mesmo dia, numa mesma semana, num mesmo mês, num mesmo ano... não é a castração do desejo que esse escárnio social faz. não corta fora. divide o desejo em pedaços mal cortados pra que, nos nossos pescoços, passem um laço, uma forca, uma gravata borboleta feita de correntes. é o tempo todo essa porra. realmente não entendo quem não é comunista - claro que entendo - uma tragicomédia interminável. vira e mexe eu volto numa ideia com pessoas do meu convívio que é: "mano, como que compra um carro?", tipo, de não ter dimensão de como é lançar, sei lá, vinte mil conto, trinta mil e ó que eu tô falando dos mais "baratos", tá? tipo, que porra é essa? e olha que hoje em dia eu posso ser considerado classe média, tá? eu olho pra trás e fico pensando completamente absorto, como é que meus pais que foram pobres reais deram conta de tanta coisa, isso porquê tô falando só no sentido monetário da parada... nem vou entrar nos outros milhões de aspectos que, porra, esse já é um texto de reclamação, imagina meter família no meio. enfim, o eterno fim da festa do apocalipse. e, porra, apocalipse? que que é apocalipse perto disso? a explosão do mundo é como fogos de artifícios saindo de dentro pra fora. de verdade, olha bem em volta. não, sério, olha em volta porra... bagulho tá louco demais. isso porquê eu nem vou falar de mudança climática, hein? calor do caralho, os europeus lá da puta que pariu do norte vão passar umas diferenças lá, né? bom, cada cachorro que lamba sua caceta. infelizmente o bagulho tá assim, num tá? então, fazer o quê? porra, somos bem dos tropicais, mas, forçou demais um abraço no rabo do capeta. é tudo culpa do capitalismo essa merda que os brancos filhos da puta, aristocratas, deprimentes e, definitivamente, compensadores de um pequeno pau que botaram a gente nessa merda. nasci e cresci numa ética e moralidade social que eu jamais, repito: jamais sequer cogitaria sentir o cheiro. até porquê, vamos lá, né... falar de ética, moral e capitalismo é mesma coisa que ir no restaurante chique pra comer um grandessíssimo prato de merda, com cebolinhas postas bem em cima e alguma rebusques pra intensificar o fedor inenarrável. eu queria era uma revolução, uma decolonização, uma virada de tudo de cabeça pra baixo como no desenho de Galeano. vai ter? num sei. vou ter? acho muito, muito difícil, mas, já casei com a esperança e agora é ser fiel a essa porra até o final. mas, ó, tô cansado... tô cansado, hein? não me enche a porra do saco não. porra, me vejo no espelho e percebo que o tempo passou, muita chuva choveu, muito fogo queimou, a barba cresceu, o dente entortou, o cabelo cortou, a barriga encheu, a vida viveu e a morte morreu. perdi um bocado do meu romantismo... é, pois é, nasci como poeta romântico, no pico da palavra, o amor era a coisa mais importante e até sei que é, mas, a performance baixou, olho as relações de amor e, muitas vezes, me dá um cansaço. amo amar, mas, é foda. não necessariamente num niilismo relacional, até acho que as relações engoliram - vez a força, vez não - compreensões de sentimentos, afetos, dinâmicas, modos, que são potentes de maneira em que o desejo faz parte do alicerce. não sei, talvez eu esteja num amargor precoce, meio ranzinza pra quem nem fez trinta anos ainda. não sei, acho que vivi momentos históricos demais já. ó, pra tu ver, nesse exato momento tem pelo menos duas guerras oficiais e diretas rolando, tipo, bombardeio e os caralho, não é filme não, porra. vide, dois mil e vinte e três e simplesmente há guerras absolutamente violentas e criminosas acontecendo e que vão continuar acontecendo pra, sei lá, uns meses ainda. uau, feliz natal pra nós. o que eu vou querer de ano novo é um exorcismo, juro pra você. saravá, banho de folhas, descarrego, renovação, sal grosso, soprar canela, o que tiver aí pode me dar que tô aceitando. parece até que atravessamos o quinto dos infernos, porra. sexto, sétimo dos infernos. mas me fala e esse papo de envelhecer na pós-modernidade? que porra é essa? tá maluco, os trinta anos chegam rasgando, é burnout pra cá, trauma pra cá, depressão, ansiedade, autossabotagem, delírio, impotência sexual, lombar fudida, dor de cabeça, tabagismo, alcoolismo e a puta que pariu toda. e num tô falando de exceções não, tá todo mundo fudido mesmo, todo mundo. eu, tu, ele, nós, vós, eles. a eterna crise existencial que hoje tem mais nomes. ó, eu bem acho que pra viver bem precisa ter uma vontadezinha de morrer, acho justo, mas, pelo amor de deus quanta tentação nessa porra. não tô falando que vou me matar não, porra, essa vontade materializada ficou lá nuns anos atrás, cinco, seis, sete, por aí... ou mais, num sei, hoje em dia o que eu chamo de vontade de morrer é aquela sensação que se pudesse eu sumia, ia pra casa do caralho, botava fogo no apartamento e ia. pra onde? e eu sei lá, porra? ia embrenhar aí pra qualquer canto e ficar lá. ou não também. esse enorme, gigantesco grito de foda-se entalado na garganta. foda-se tu, foda-se eu, foda-se o caralho, foda-se a política, foda-se os caras, foda-se as minas, foda-se não-binarios, foda-se os bancos, foda-se as autoescolas, foda-se a faculdade, foda-se sua casa, foda-se minha casa, foda-se a casa dos seus avós, foda-se mesmo e foda-se. mas, tamo aqui, assim, foda-se nada, empenhados em manter a performance, o teatro, a balela, essa coisa toda que a gente clama que é e num é porra nenhuma. mó difícil essa porra. não condeno ninguém não, muito pelo contrário, mas, pensando bem eu condeno. por que que eu não condenaria? já tá tudo condenado mesmo. vou até acender um cigarro aqui... tem essa merda também, essa porra desse cigarro que eu já sou viciado faz quase uns dez anos, por aí, e até hoje essa porra... nem tenho vontade de fumar mais. aquele prazer lá? a caída de pressão? sinto mais essas porra não, é só o vício do hábito e o hábito do vício. puta, mas, que delícia tragar esse cigarro agora. depois vou bolar um baseado aqui e amansar que nem um anjinho submetido por Deus... porra, muito me admira quem não fuma unzinho. nem unzinho? entendo que tua calma pode vir da meditação, da siririca, da punheta, etc., mas, nem unzinho? nada? haja coração, hein? credo. eu, hein? eu vou bem é me retirar, tá? vou dormir pra eu não ficar gritando comigo e de volta pra mim nisso tudo, até porquê tenho que aproveitar meu sono mesmo enquanto o tenho, pois, putz, a cada ano que passa parece que cortam meu sono, alguma desgraça, algum iridescente do vazio existencial, essas porra assim, saca? durmo tarde, acordo cedo e nem o diabo em pessoa me concede a volta do sono. voltar a dormir? pô, até parece... o eterno sono não dormido que parece que é um membro novo do nosso corpo quando a gente descobre. bizarro isso. antes dormir era tão fácil. sonhar era tão fácil... ih, nem vou me jogar nesse papo saudosista que só evidencia mais ainda o quanto a gente fudido... lavarei o rosto nas águas sagradas da pia e repousarei na cama de espinhos da mãe-terra, mãe essa que é a desamparada pelo filho e não o contrário... tomar no cu, viu?
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ufa...
agora posso voltar.