Saúde mental.
Saúde mental, termo que ganha impacto por pouco tempo passado. Há uns dez anos atrás eu não me lembro de ninguém falando sobre. Dez anos atrás eu comecei a escutar.
É repetido: saúde, saúde, saúde.
Saúde pra quê, pra quem? Saúde pra nóis? Não sei. Eu vi que nóis que temo correr atrás - pra variar - porquê até um outro passado meio presente demais, nem saúde sabiam que nóis, pretes, tínhamos. Sem alma, sem espírito, sem humanidade, infestado só de nada.
Nada o caralho.
A resposta é antiga, atual e futura.
A resposta vem em lágrimas suadas e suor de lágrimas. Vem de punho fechado para o alto e cerrar dos dentes. Vem do brilho da pele preta.
É necessário se lembrar do passado, é necessário se lembrar do futuro. É necessário ser.
A nós, pretes, netos de mãe África, filhos d’America Latina, dos sorrisos mais luminosos, dos lábios grandes, de bons e belos beijos. Dos crespos e encaracolados que mostram que quem dança somos nós, pra além dos pés, a dança é nossa, a dança é nóis.
A maior inteligência e gritaria de guerra, surto e vida é nossa. Criadores visionários da existência. O preto é início e o preto é o fim. Somos cria que criou e ornamentou com a ritualística viva de saber que viver pode ser válido.
É necessário que sejamos a intensa contraditória entre a insistência de querer viver e existir, existir vivendo e viver existindo. A cor da revolução existencial é preta. Somos o ônus, o bônus, o alfa, o ômega. Somos Deus.
Tomar o que é nosso, como a obsidiana que se gera do calor mais puro do mundo e se torna preciosa, firme e cortante.
O fogo é nosso sangue e a reluzência também.
A natureza vítrea da obsidiana, na essência um sólido amorfo, ou seja um vidro, confere a esta rocha uma elevada dureza (5–6 na escala de Mohs) e fragilidade, pelo que fractura na forma concoide, produzindo lâminas com gume muito afiado. A capacidade de formar lâminas cortantes de elevada dureza levou a que a obsidiana fosse utilizada no passado na manufactura de ferramentas de corte e de perfuração, tendo recentemente sido utilizada na produção experimental de lâminas cirúrgicas a utilizar em bisturis de grande precisão.
Tentaram e tentam nos envelhecer e matar, mas nossa pele sempre vai ser mais brilhante e firme. Os filhos humanos primevos do sol. Filhos do fogo. Filhos do fogo, da terra, da água e do ar.
O fogo somos nós, o vento é nosso, e o ouro amarelou-se por inveja ao nosso preto.
Não se esquecer é importante.
Não esquecer que não somos resposta e contra-ataque, somos lindos, absolutamente lindos. Somos completude, complementação, contemplação, caos e Deus.
O cotidiano nos faz ser resposta imediata a todo instante há bem mais de quinhentos anos, mas, há eras que somos a pergunta, a resposta, a reflexão, a ação, o afeto, a práxis e o movimento.
A fênix que nunca morreu somos nós.
A fênix que nunca morreu e, mesmo assim, renasce.
A fênix que nunca morreu e nem vai.
Tentam nos quebrar: sopramos fumaça e esmurramos.
A noite dói. A noite é preta. No canto da noite, dói, demasiadamente humanos e demasiadamente deuses. Entristecemo-nos porquê aguentar é difícil, aguentar rasga. O banzo não é mentira. Dói e nos fizeram isso, a culpa não é nossa. A fúria negra ressuscita outra vez porquê se mata pra continuar viva. Portanto, paradoxalmente — e o paradoxo é dono da realidade — nunca morremos e nem vamos.
Malcolm X dizia que a violência quando autodefesa, não é violência, é inteligência e nós somos inteligentes pra caralho.
Estamos vivos. Continuemos vivos. Fiquemos vivos. Fique vivo e viva.
Se a vida que somos nós, morrer, quem é que vai viver?
O punho também é mão esticada.
É foda, mas nóis também é.
A saúde mental do jovem preto é sensível, a gente sabe é com afeto, sentimento puro, riso de Deus. Da mesma forma que dói, o grito é mais alto, pura garganta e quebra de correntes.
É necessário ter noção que somos a primeira e a maior expressão de vida conhecida. Enquanto somos, brancos são os que não tem povo.
Criador versus destruidor.
Embrutece-te com leveza e flutue com brutalidade.
Que voemos, Os meus, e deixemos a cor preta por todo o céu azul.
Quando for noite até o talo, a luz da lua e do sol serão uma única luz.
Antes da nossa existência, existir era impossível. Somos os inventores do amor e da liberdade e não sou eu quem digo isso, é bell hooks e se não confiar em mim, confie em bell hooks.
Entre os pelos de cor obsidiana da pantera, saem as garras. O sangue que criamos, hei de tirar também se necessário.
E, literalmente claramente, é necessário.
Que nossa pintura de guerra seja o sangue deles.
‿̩̥̩‿̩̩̥͙̽‿̩͙ˊ⸊ˎ‿̩̥̩‿̩̩̥͙̽‿̩͙ˊ⸊ˎ‿̩̥̩‿̩̩̥͙̽‿̩͙ˊ⸊ˎ