nada em nenhum lugar em tempo nenhum.
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A esperança é ferramenta de luta.
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A esperança é ferramenta de luta.

13. ★
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Se tu curte essas inutileza de falazada, considera se inscrever aí no NADA EM NENHUM LUGAR EM TEMPO NENHUM que você vai receber essas paradas todas toda semana.

Eu, hoje, estava relendo uns textos meus lá de 2020, uma tentativa de escrever todo dia, tentando não sucumbir ao quão bizarro foi - principalmente - o início da pandemia, onde ninguém tinha a mínima ideia do que estava fazendo ou do que iria fazer e, nessa leitura, percebi que, pensando agora, eu literalmente tinha pensado minha vida até Outubro de 2022, como se fosse uma linha de chegada mesmo, longe, absurdamente longe. Lembro da sensação de me desolar quando pensava no quão longe 2022 era de 2020.

Quem viveu no Brasil de 2020 tenho plena e absoluta certeza que jamais esquecerá. A pandemia por si só já é um trauma social bizarro, porém, especificamente nessa republiceta que vivemos chamada Brasil, estávamos nós em mar aberto de uma crise ética-estética-política vivida desde 2013 com as manifestações que começam interessantes e se deturpam, com golpe covarde em 2016 em cima da presidente Dilma Rousseff, portanto, depois o governo golpista de Michel Temer, o nosso Nosferatu, concretizando toda a desgraça no mergulho profundo ao absurdismo do capitalismo tardio pós-moderno e seus tentáculos inefáveis, colocando um animal desengonçado, horripilante, nojento, covarde, desprezível e desgraçado chamado Jair Bolsonaro.

Porra, aí a merda não foi feita, ela foi espalhada pra tudo quanto é lado. 2020 a merda já tava no pescoço e aí, de Março pra Abril, como disse Bo Burnham: A coisa mais engraçada aconteceu...

Aí é papo pra mais de metro. Outra hora a gente fala disso.

Agora, exatamente agora, a minha fala é sobre a possibilidade intensamente própria de adiantar o réveillon, de comemorar bons ventos pra cá no mais alto dos alívios que podemos e merecemos ter. Aquela coisa de recomeçar mesmo.

Acho que já deu pra sacar que meu voto é Lula, né?

Dia 2 eu vou apertar o número 13 de forma tão genuína, com firmeza, esperança, cansaço e fé.

Eu lia esse texto que falava desse período da pandemia, especificamente em Abril de 2020, daí tem uma passagem minha que fez com que eu entendesse que esse texto aqui, que você lê agora, seria algo como um outro pedaço daquele texto, não diria exatamente uma continuação, mas, há, de fato, uma continuidade. Enfim, a continuidade não é importante pra ninguém além de mim, o que, de fato, importa, é que esse texto me lembrou do quanto eu queria sonhar com as coisas e o quão a realização estava ainda mais distante naquele Abril desgraçado:

"Tenho me lembrado bastante de sonhar. Comumente não consigo lembrar dos sonhos, mas consigo lembrar de sonhar. Fantasiar com a parte que a fantasia é a realidade e eu não tenho que, necessariamente, pagar pra isso. Num piscar de olhos, num estalar de dedos, num sopro que sopra a poeira, a capacidade de sonhar denota que a potência existe e é força motriz. O sonho é a ilustração mais artística que a potência se veste e é importante não esquecer disso. Não só não esquecer, mas, lembrar."

Logo me vem aquele vídeo de uma entrevista do Mano Brown que nalguma fala dele diz sobre os moleques da favela ainda terem ânimo e alegria: "É porquê eles tão cheio de plano [sonho]."

Eu acho que é isso, sabe? Acho que o Lula traz consigo a certeza que, sim, eu posso sonhar sem parecer fábula. Sonhar como objetivo, não como utopia.

Veja bem, tenho sentimentos muito confusos para com o Lula. Resumindo em miúdos, definitivamente Lula não é a esquerda que eu quero, minha esquerda de fato estaria muito mais com Leonardo Péricles da UP ou com a Sofia Manzano do PCB, esses candidatos, sim, representam aquilo que eu quero como norteamento da sociedade (aliás, olho neles pra caralho nesses próximos anos que virão), porém, votarei sem rancor e sem angústia no Lula, não sinto como sendo um voto útil apesar de, alguma forma, ser.

Digo que tenho sentimentos confusos pelo Lula porquê eu, de fato, amo ele. Amo ele como imagem, como história, como aprendizado, como potência, amo como político, como discurso, todavia, eu não fecho com a política reformista, conciliadora, também não acho que as pessoas não-brancas foram tratadas com a dignidade devida nos governos do PT, principalmente as pessoas pretas, pois, tais governos do PT tem culpa enorme no hiperencarceiramento e crescimento do estado policialesco atual, isso sem falar do agressor de professor e ladrão de merenda Geraldo Alckimin como vice... Mas, também tem a lei das cotas, o REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), tem o incentivo a cultura, a imagem crescente do país tanto interna, quanto interna, mais empregos, a fome era um problema muito menos do que é hoje, enfim, eu entrei na universidade federal por causa das cotas, eu vi irmão entrar na faculdade federal antes de mim. Eu vi meus pais poderem comprar uma bicicleta pra mim, pro meu irmão, encher a geladeira, poder comprar mais roupas, na faculdade tinha gente indo e voltando de intercâmbio sempre, vi meus pais podendo se preocupar menos, se ocupar sonhando mais, tá ligado? Vi gente pobre vivendo bem pela primeira vez.

E eu definitivamente quero esse sentimento de novo, a possibilidade desse sentimento de novo e novo.

Acho que a relação de todo pobre que não se tornou antipetista é uma sensação paternal para com o Lula e essa relação faz sentido de existir. Em termos brutos, pobre é sinônimo de completo desamparo na história da política desse país e o Lula não só diz que vai amparar o pobre como, apesar dos pesares, consegue e consegue bem. Não estou dizendo que concordo, que acho certo ou coisa do tipo, aliás, não concordo, nem acho certo e sequer saudável, mas, compreendo. Estaria mentindo se dissesse que não compreendo.

A relação com o Lula é lógica também, mas, é muito mais sobre sensibilidade.

É sabido que a uma prática massiva revolucionária não vai acontecer amanhã, nem daqui um mês, é algo que tem de ser estratégico, estruturado, construído e, agora, a força de se construir algo é direcionada para a evitar algo, evitar mais anos dessa eterna ansiedade catastrófica que vivemos não só desde o Bolsonaro, mas, desde Temer... Aliás, desde 64, mas, Bolsonaro traz essa desgraça de atmosfera que, apesar de ele ser um ser humano deveras desprovido de quaisquer inteligências, alguma merda colossal vai acontecer e, bom, aconteceu. O Brasil só tem o quase 700 mil pessoas mortas na pandemia por causa de seu ego inflado e ferido, por causa do seu desgosto por quem povoa esse país, pelo pensamento nazifascista que resume muito bem os porquês. Lula traz consigo uma descarga de tensão formidável, uma possibilidade de respiro, a possibilidade de voltar a energia a criação, construção e, sinceramente, no momento, acho que não só eu, como você também, precisamos de um tempo pra recuperar nossa potência em pleno estado, pelo menos a possibilidade de recuperar, de levantar.

A esquerda tem de ter extremo cuidado para não cair novamente, como foram nas quase duas décadas de governos do PT, na mansidão, no acomodar. Quando é convocada a prática, tem que relembrar, reorganizar, é pega de calças arriadas de forma que quando percebemos, estávamos onde estamos agora, vendendo o almoço pra comprar a janta, o espaço político aberto pra direita foi fatal, que vem na conquista, coloniza e imperializa esse espaço e a esquerda estava acordando e agora tem que se satisfazer com um futuro governo que se aproxima mais dum centro-esquerda do que, de fato, a esquerda.

Mas, entretanto, todavia, é a sensação de que algo vai passar, algo vai parar de latejar de dor, que é literalmente possível ser possível. De novo: Isso, no momento, é tudo.

Enfim, votarei genuinamente feliz no barbudo sem dedo mindinho e desesperadamente satisfeito e isso me lembra outra parte desse texto citado, mas, também a pergunta que gera todo esse texto citado, que é: Você está preparado pra quando a alegria vier?

E eu respondo assim:

“Há de estar preparado para alegria que vem, porquê vem. É louco como esquecemos que apesar de não parecer, é certeza que isso tudo vai passar. Será que estou preparando pra quando isso passar? E mais, será que estou preparado para a alegria? Eu nem sei a quantos dias, minutos, segundos ou sentidos que não pensava em alegria. Pura e simples, tipo carnaval. Esses dias achei entre as divisórias do chão de taco desse apartamento, pequeninos brilhos artificiais, ali, bem no meio da sala. Dependendo da posição que olhasse e a direção da luz, brilhava, reluzia, mesmo tão pequeno. Lembrança de carnaval é composta pelo susto do sentido, o prazer do tato e o derrame das pessoas. É quando sabe ser gente, sabe que ser gente é desengonçado mesmo e o que nóis quer é dançar, na verdade. Me lembrou que eu quero viver mais carnavais."

Que, enfim, a gente possa carnavalizar em cima do caixão desse governo de merda. Precisamos disso.

Dia 2 é 13 neles.

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2 Comentários
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