nada em nenhum lugar em tempo nenhum.
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A urgência e a necessidade de abandonar.
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A urgência e a necessidade de abandonar.

só isso.
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Se tu curte essas inutileza de falazada, considera se inscrever aí no NADA EM NENHUM LUGAR EM TEMPO NENHUM que você vai receber essas paradas todas toda semana.

Lembro que nos últimos meses de sessões de terapia, uma das palavras que tem aparecido muito é a palavra "abandonar" e derivados gramaticais, num sentido que não é o primeiro que vem a mente de ser alguém abandonado, mas, sim, ser alguém que precisa abandonar.

Terapia é loco, né?

Acho que tenho uma relação próxima com o ato de tensionar, apertar, segurar, agarrar, num sentido filosófico da coisa, eu confesso que sou rancoroso, ressentido, magoado, chateado, emburrado e afins. Da infância à adolescência tive prisão de ventre num foi à toa.

Não demorei a entender isso, quando criança, eu era a pessoa que, se decidido em algum conflito, que a condenação da relação seria "um não conversar com o outro", eu mantinha como se fosse minha via crucis, já passei meses e até coisa de ano sem proferir uma palavra pra além do básico. Em outrora, eu tive até orgulho disso, desse comprometimento com o rancor, eu gostava de me caracterizar como alguém rancoroso, achava corajoso, como alguém que pensa ter orgulho das cicatrizes, mas, a ferida ainda tá aberta e pulsante. Hoje em dia eu acho um desgosto do caralho toda essa parada de pressionar.

O rolê desses afetos claustrofóbicos como remorso, ressentimento, rancor, indignação até mesmo culpa é justamente que eles são o aperto, uma mão que está fazendo força demais tem completo medo de soltar, é um movimento difícil, ainda que seja um movimento leve. Talvez seja isso a insustentável leveza do ser.

Enfim, voltando - para além - (d)a terapia, é desses sentimentos tão calcificados e, justamente, feitos para calcificar que é necessário o abandono. É um abandonar o passado de um jeito diferente, específico, porquê esse papo de abandonar o passado é alienação e/ou delírio. O passado é parte crucial e sim, o passado coloniza várias ilhas da arquipélago da existência, mas, não o presente. E isso tem de ser regra, tem de ser definição, afirmação. Tem de ser grito, sabe?

Muitas vezes me percebo com 28 anos percebendo o mundo ou reagindo ao mundo como o Matheus de 12 anos ou o pré-adolescente dos 14 ou até mesmo o adolescente confuso dos 16, 17 anos e não que eu condene minhas versões passadas, jamais, tenho amor e acolhimento para todas as minhas épocas e, justamente, por compreender isso, eu preciso abandonar as maldições que me amaldiçoaram nessas épocas.

Eu não tenho desejo algum que eu seja um aglomerado de compensações a um tempo passado.

Se for pra cicatrizar que cicatrize, eu tenho mais coisas pra fazer.

Não entenda como um tipo de manual, na verdade tudo isso soa muito mais como uma afirmação duvidosa ou uma pergunta afirmativa. Não é um guia ao perdão, ao esquecimento, a redenção... É muito mais sobre não saber do que saber, mas, é muito mais sobre saber o que não se quer e isso é bom.

Há uma necessidade de abandonar as compensações, abandonar alguns pesos, algumas coisas, algumas missões, abandonar algumas casas mal assombradas, abandonar alguns mofos, algumas certezas, algumas definições. Acho que como numa certeza sobre saber o que se quer levar e o que não se quer levar.

Logo me lembro de Paul B. Preciado pedindo para que falte coragem, pedindo que falte coragem para se normalopatizar, que falte coragem de se confortar, que falte coragem de performar o papel neurótico.

Acho que, enfim, alguém responde o que é o preenchimento da falta.

Talvez seja também sobre faltar coragem pra algumas coisas pra sobrar coragem pra outras coisas.

Equilíbrio é tudo, não é?

Acho que é a percepção e aceitação que alguns "problemas" eu não quero resolver, de forma simples e direta. Não como algo fugaz ou uma esquiva, é de saber que está ali a tanto tempo, tanto tempo que não faz sequer algum sentido essa resposta mais.

Imediatamente me vem entrevista de Jean-Michael Basquiat em que é perguntado se ele sente raiva e ele imediatamente responde que sim, o repórter em seguida pergunta "de que?" e então instaura-se um silêncio rápido mas dá a a sensação que que dura mais do que era para durar. Basquiat procura na mente, sorri de canto de boca, tímido ele responde: "Eu não lembro".

Sacou?

O ressentir é desgastante por si só, o hábito de ressentir é desestruturante.

É dessa soltura que eu falo.

É desse abandono que eu falo.

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